sábado, 14 de março de 2009

American National Anthem

Enquanto o próximo post está ainda no forno, deixo-vos com uma música de tributo aos heróis americanos, feita para o filme The War (nunca vi) e cantada pela Norah Jones. As imagens são fotos reais da altura da Segunda Guerra Mundial.





All we've been given
By those who came before
The dream of a nation
Where freedom would endure
The work and prayers
Of centuries
Have brought us to this day

What shall be our legacy?
What will our children say?
Let them say of me
I was one who believed
In sharing the blessings
I received
Let me know in my heart
When my days are through
America
America
I gave my best to you

Each generation from the plains
To distant shore with the gifts
What they were given
Were determined
To leave more
Valiant battles fought together
Acts of conscience fought alone
These are the seeds
From which America has grown

Let them say of me
I was one who believed
In sharing the blessings
I received
Let me know in my heart
When my days are through
America
America
I gave my best to you

For those who think
They have nothing to share
Who fear in their hearts
There is no hero there
Know each quiet act
Of dignity is
That which fortifies
The soul of a nation
That never dies

Let them say of me
I was one who believed
In sharing the blessings
I received
Let me know in my heart
When my days are through
America
America
I gave my best to you

sábado, 21 de fevereiro de 2009

II - Chegada a Bayeux

A paisagem francesa é bela. O Sena tem imensos braços que se estendem para norte de Paris, criando canais e lagos ao redor dos quais crescem vilas. As casas são maioritariamente vivendas, pintadas de castanho claro, mas com lancis de pedra escura ou de tijolo escuro e com telhados também mais escuros. O efeito é pituresco e agradável. Acho a arquitectura urbana na Europa central muito mais bonita do que na Peninsula Ibérica. Essa impressão não é baseada apenas na França, mas também no Luxemburgo.

O comboio continua a galgar quilometros em direcção ao norte. Julgo que já não estamos na Ile-de-France. Vamos serpenteando por entre planícies verdes e zonas florestais. É bem mais bonito que os canaviais que frequentemente vemos na paisagem portuguesa. Passamos numa vila muito conhecida por ter uma catedral imponente no cimo de uma colina, a vila de Lisieux. Consigo avistar a catedral do comboio e é, de facto, majestosa. Com o mesmo impacto visual, só me recordo da Catedral de Salamanca.


Depois passamos por Caen, a capital da Baixa Normandia. E, já em pleno coração da Normandia, mudamos um pouco a rota para Oeste e chegamos a Bayeux. Bayeux é uma pequena vila, muito simpática, que encanta logo ao primeiro contacto. Da estação até ao centro da vila caminho uns 10 minutos. E como não podia deixar de ser, Bayeux tem uma catedral que me é apresentada assim:


Por não ser católico sinto-me à vontade para questionar os balúrdios que a Igreja Católica gastou para construir tantos monumentos sob a forma de igrejas pela Europa latina e pela América latina. É algo que, de um ponto de vista puritano, roça a imoralidade. Num dos meus livros preferidos, às tantas o autor conta uma pequena história acerca da construção de uma igreja católica numa pequena vila da América Latina (talvez no México, mas agora não me recordo com certeza absoluta). O autor conta que os habitantes da aldeia eram pobres, mas doavam tudo o que podiam para as obras da igreja, de modo a dar esplendor à obra, como uma forma de adoração a Deus. Isto pode ser visto de dois ângulos: como uma exploração ou como uma forma de devoção. É certo que a Bíblia diz que aquilo que agrada a Deus é um coração contrito e não qualquer forma de sacrifício (físico ou financeiro). Mas nestes assuntos o melhor é não sermos fundamentalistas e o que é certo é que as catedrais foram construídas e muitas são monumentos do mais belo que há. A Catedral de Bayeux não é tão imponente como a de Lisieux. Mas não deixa de ser grandiosa e é um bom modelo para fotografias.


Mas nem só da catedral vive Bayeux. É uma vila com uma zona muito antiga, medieval e rústica, conhecida como a velha Bayeux. Teve a sorte de não ter sido nada atingida pela segunda guerra mundial, o que para as vilas e cidades daquela região foi uma raridade. Por exemplo, após intensos os bombardeamentos dos aliados com o objectivo de obrigar os alemães a recuar, a cidade de Caen ficou reduzida a um monte de ruínas.


Após recolher algumas primeiras impressões de Bayeux, senti o estomago a pedir-me comida e fui procurar o McDonalds. Mais tarde percebi que foi um erro ter optado pelo McDonalds. Queria ter aproveitado a viagem para experimentar algum prato típico da região, mas, por razões que depois explicarei, a escolha do McDonalds para o meu primeiro almoço acabou por impossibilitar tal experiência.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

I - Embalado Pelo Comboio


7h55m

Toca o despertador, interrompendo um daqueles sonhos cujos detalhes se esfumam, deixando apenas uma ténue impressão desagradável.

Afasto o cobertor a contragosto. A sensação que tenho é a de uma ressaca... devia ter planeado os meus horários semanais de modo a não ter dificuldade em acordar "cedo" hoje. Mas a experiência mostra que isso é impossível. Se tenho alguns defeitos (e felizmente tenho-os, já que ninguém lhes está imune) um deles é certamente a falta de disciplina nos horários. Deitar tarde e levantar tarde é um hábito que se foi enraizando nos últimos anos e do qual já não consigo fugir. De qualquer modo, à excepção de dias como o de hoje, esse hábito não me traz qualquer tipo de problemas.

Durante quase duas décadas fui um madrugador. Em criança dormia pouco e não tinha dificuldade em acordar cedo para ver "os bonecos". Mas durante os anos de licenciatura tudo mudou, principalmente por culpa do primeiro ano mal dormido. Acordar todos os dias úteis às 6 e pouco da manhã é algo que não se deseja a ninguém. E o resultado disso foi que, quando me conseguia levantar, ía para a faculdade jogar às cartas em vez de ir bocejar para as aulas.

Hoje a dificuldade para sair da cama foi amenizada pela lembrança daquilo que o dia me reservava. Aos poucos a adrenalina tomou conta de mim, o que me levou a despachar-me muito mais depressa do que supunha e a chegar demasiado cedo à gare de Saint-Lazare. Comi os Golden Grahams num ápice, bebi o cafezinho obrigatório e lá me pus a caminho de mochila às costas. Na gare tive tempo para dar uma vista de olhos ao quiosque dos jornais. E para além dos jornais também vendem livros. E o que é que eu faço quando estou perante uma montra de livros? Compro um! Hoje comprei Le soleil se leve aussi, de Ernest Hemingway.

Mas uma vez no comboio, a minha vontade não é ler. Deixo-me estar recostado no banco confortável, embalado pela aceleração do comboio que me levará à Normandia. O comboio é, sem dúvida, o meio de transporte mais agradável para as viagens não quotidianas. Ser obrigado a fazer o trajecto Vila Franca-Lisboa, num comboio muitas vezes apinhado, pode ser extremamente desagradável. Mas quando temos todo o tempo do mundo para desfrutar de uma viagem que atravessa diferentes paisagens, aldeias e cidades, não há melhor que o comboio.

Há medida que a viagem se desenrola, vai crescendo o impulso de pegar numa caneta e começar a escrever o que me vem ao pensamento. Sem muita atenção, sem demasiado zelo linguístico. Enquanto atravessamos a Ile-de-France, eu vou a sonhar acordado. Sonho que se um dia ganhasse o Euro-Milhões, a minha vida podia ser isto. Viajar e escrever. Podia tornar-me um escritor de crónicas de viagens. Uma espécie de Gonçalo Cadilhe. Mas dedicando também algum tempo à matemática, até porque a escrita e a matemática não são de todo incompatíveis. O que é paradoxal neste meu sonho, é que as minhas leituras de livros de viagens nunca passaram de leituras em diagonal. Mas definitivamente tenho que prestar atenção ao Gonçalo Cadilhe porque parece-me que ele tem escrito umas coisas com qualidade.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Começo pelo fim


Vou começar pelo fim. Depois de um dia dedicado a visitar locais históricos da segunda guerra mundial e a conhecer mais histórias acerca do dia D, perguntei ao guia se ele não temia que um dia as pessoas se esqueçam do que os soldados aliados fizeram na Normandia. Ele respondeu que sim, que também tem esse medo, mas que faz a parte dele para que os feitos heróicos dos soldados aliados (e não só!) não caiam no esquecimento. Eu gostei da resposta dele e decidi também eu contribuir, ainda que de um modo bastante humilde, para impedir ou retardar esse esquecimento. Por isso decidi criar este blogue, onde procurarei expor aquilo que senti ao visitar a Normandia. À medida do tempo que tiver disponível e da minha inspiração, vou contar-vos como foi a minha (primeira) viagem à Normandia. Provavelmente vou dispersar muitas vezes do tema central do blogue. A escrita vai fugir-me para pequenos apartes e para observações que podem não ter muito a ver com a Normandia. Mas é assim que gosto de escrever, é o meu cunho pessoal, talvez levemente egocêntrico. Provavelmente não vou ter o rigor histórico de uma enciclopédia, até porque vou escrever muita coisa baseado apenas na minha fraca memória. O que pretendo é dar um testemunho daquilo que senti ao cumprir o sonho de visitar a Normandia. E desse modo contribuir para que continue a ser dada honra aos soldados anónimos, muitos deles miudos mais novos do que eu, que deram os melhores anos das suas vidas (dezenas de milhares deram mesmo a própria vida) para libertar a Europa da opressão nazi. The Finest Hour é o título atribuído a um dos mais célebres discursos de Winston Churchill. Esse discurso foi feito depois de uma derrota que os alemães infligiram aos britânicos. Essa derrota obrigou à retirada do Corpo Expedicionário Britânico da Europa e quase provocou a aniquilação das forças britânicas em Dunquerque. Daquilo que li acerca do assunto, foi um milagre que essa tragédia não tenha adquirido contornos mais negros. Talvez tenha sido esse o momento em que o Hitler esteve mais perto de ganhar a guerra. Depois da retirada, a Grã-Bretanha viu-se sozinha na guerra, contra uma Alemanha que dominava toda a Europa e que estava, por enquanto, em paz com a Russia de Estaline. Nessa altura os Estados Unidos ainda não tinham entrado em guerra, algo que só viria a acontecer um ano e meio depois, como consequência do ataque a Pearl Harbour. Foi nesse contexto que Churchill usou a expressão The Finest Hour. É uma expressão de dificil tradução. Em português, eu usaria a expressão O Melhor Momento. O que Churchill quis foi incentivar o país dizendo-lhes que apesar das dificuldades que iam enfrentar a breve prazo, um dia os seus descendentes iriam olhar para trás e iriam reconhecer a época que a Grã-Bretanha estava a viver como O Melhor Momento do Império Britânico. Mas julgo que a expressão de Churchill também ilustra bem a fase final da segunda guerra mundial, o dia D e o pós-dia D, englobando não só a Grã-Bretanha, mas todos os aliados.